entendo a preocupação de muitos com as inúmeras imigrações que vem acontecendo por todo o mundo. entendo também que cada um esteja fazendo o que acha correto, tentando encontrar a melhor solução, digo, uma solução, aliás, existe solução correta?
digo que entendo a preocupação dos outros, porque no fundo não me preocupo o suficiente para querer saber detalhes. o que sei e entendo bem é que vivemos como reféns, nós somos os refugiados em um país que cresce somente em sonho. prósperos sonhos da nação que jorrará mel e leite, celeiro e coração do mundo, a pátria do evangelho. nós somos reféns do futuro.
fazemos nossa segurança na cintura, nos equipamos com câmeras de vigilância com tecnologia de ponta, pois se dermos sorte, teremos um close em full hd do possível suspeito. que sorte a nossa! enfiar mais um por de trás das grades e pagar por refeições e banhos de sol, enquanto aqui fora o preço do pão sobe. mas tudo bem, a justiça foi feita e ao invés dele levar o que está guardado dentro das casas, o que foi pago e devidamente pago, roupas, relógios caros, perfumes importados, eletrônicos, ele vai só ser sustentado com o nosso dinheiro. quem não vê justiça aí?
nós temos medo e bebemos todas as noites, tentando nos enganar de que a solução está logo ali, que isso tudo vai passar rápido, que não estamos tão mal assim.
felizes aqueles que podem, ainda que por azar e com muito, mas muito sofrimento, largar tudo para trás e correr riscos, mas ainda assim partir em busca de tempos melhores, porque nós ainda estamos aqui, fingindo enxergar o que não vemos, tentando entender o que é incompreensível, nos animando e querendo acreditar que ainda é possível. no fundo somos nós os que precisam de asilo político, estrangeiros em nosso próprio país, recorremos a férias no exterior sempre que possível, para fugir da loucura que é ver o possível e conviver com o impossível, o abismo, o absurdo que foi feito nesse lugar. ainda assim, a grande maioria dos que se utilizam dessa técnica, o turismo, nunca esteve no interior miserável que essa nação tem entranhada em seus milhares e milhares de quilômetros e se choca, se revolta quando digo que não entendo e não sirvo para discutir sobre política, a filosofia da política, a ciência política, pois sempre fui do tipo que põe a mão na massa, aprendendo para ensinar o outro, o pobre, que é sempre símbolo de joguete, massa de manobra na mão de grandes jogadores.
eles encontraram amor em minha agressividade, em minhas leituras, nas pequenas introduções à língua inglesa, no lanche da tarde, ao lampejo de possibilidades, qualquer possibilidade de algo diferente da realidade abusiva que os abraça diatiamente e eu sou grata por cada lição de humildade aprendida com cada um deles, os nossos refugiados.
continuo não sendo eloquente na política. confesso que me abstive nas últimas eleições e no fundo tento até não sentir, mas me pego um tanto orgulhosa, na falta de definiçào melhor, de não ter colaborado ativamente para o resultado matemático nas urnas, pois não gostaria de ter votado em ninguém. estava ocupada indo aonde ninguém quer ir, nem ficar, muito menos voltar, o brasil real.
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