segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Como Diana Vreeland

Não tenho dormido ultimamente. Dizem que quando você não consegue dormir, é porque o cérebro te traz informações desnecessárias em horas inadequadas. É exatamente o que tem acontecido comigo. Acordo pensando porque não deixei outro cara legal virar namorado, mas quando vi já tinha deixado. Aí já tô tomando outro banho demorado às quatro e quinze da madrugada, porque depois que aprendi a tomar banho, isso se tornou um hábito, pensando em como eu fui me tornando essa pessoa que realmente não se importa com pessoas e que não tem banheira. Sou apaixonada por elas, banheiras e não pessoas. Quase todas as casas em que morei tinha uma banheira. Uma ou duas ou três e nunca pensei que sentiria tanto a falta de qualquer uma delas como agora,  quando você não sabe o que se passa com a sua cabeça. Sempre enchia a banheira com água bem quente e ficava ali até as coisas se resolverem, até meus problemas se tornarem piadas e eu sair contando piada sobre como eu tinha ferrado com as coisas, e então os problemas não cresciam como hoje. Eles simplesmente desapareciam porque tinham virado piada na minha cabeça e logo eu poderia seguir em frente, porque não tinha mais problemas. Eu tinha feito piadas. Piadas sobre a desgraça que tinha me acontecido e então estava pronta pra rir de mim mesma e deixar a vida seguir o curso dela.
Mas hoje não tenho banheira. Faz tempo, aliás, que não tenho banheira. Pode levar algum tempo para eu ter uma banheira novamente. E tudo está se acumulando em minha mente.
Então tomo banhos longos e não me importo com a água. Nunca me importei, na verdade. Sempre achei o Al Gore um babaca, mesmo antes dele ser o Al Gore que é hoje eu já não me importava com a falta de água no planeta. Tenho outras problemas na cabeça e o fato de alguns acreditarem que vai faltar água não é um problema para mim. Boa parte dos meus amigos diria que eu represento a burguesia, que sou patrícia e que ela simplesmente não se importa com questões relevantes como aquecimento global, falta de água e extinção de animais. Outra parte acredita que eu deva ser uma completa alienada política e que nem sei sobre questões como a água, etc. Mas eu só acho que não é nada disso. Só acho que as pessoas estão tentando se informar a todo custo e entender sobre tudo isso e acabam mal informadas, that's all.
Todavia, meu posicionamento político ou qualquer coisa relacionada realmente não importa quando o que acontece é que não consigo dormir. Só isso.

O engraçado é que enquanto eu tomava banho, repetia silenciosamente em minha mente que eu talvez tenha nascido para ser como Diana Vreeland. Nunca foi a mais bonita, mas criava beleza ao seu redor; não teve muito sucesso com os estudos, mas aprendeu com a vida; não tinha muito dinheiro, mas era extremamente criativa. Eu adoraria ser como Diana Vreeland!
O problema é que Diana só se tornou Vreeland após o casamento, e se durante toda a minha adolescência eu nunca dei bola pra essa coisa de amor verdadeiro e felizes para sempre, agora, faltando menos de dez dias para completar trinta, eu realmente acho uma besteira sem tamanho. E no banho, que não é de banheira, me pergunto: como foi que eu fiquei assim?
Não tenho resposta. Ainda não tenho. Sobre a verdade inconveniente do Al Gore, tenho, sobre o Obama ter escolhido At last no primeiro mandato, também tenho, sobre Cuba, Venezuela e a Kirchner  e o Blairo também, mas sobre porque não nasci com DNA do romantismo ainda não tenho a menor ideia. E acho que decepciono as pessoas. Elas veem tanto potencial desperdiçado. Se dependesse delas eu teria encontrado minha alma gêmea aos dezenove, teríamos feito mochilão pela Europa, depois conhecido os parentes, escolhido igreja, VESTIDO BRANCO, ah, por favor, diga que elas não esperam que eu tenha filhos. Por favor! Sim, elas esperam isso de mim. Eu sei. Eu posso sentir.

Mas aí, quando já estou para desligar o chuveiro, penso que casada ou não, Diana seria Diana. Cedo ou tarde ela faria o que gostaria de fazer e é assim que as coisas são. Talvez essa coisa de não dormir venha porque eu ainda não faço o que gostaria sendo Diana mesmo sem Vreeland, mas não quer dizer que não vá fazer. Talvez eu não durma porque sei que o Vreeland é tão certo quanto como Diana nascer Diana e ser Diana, e depois se tornar Diana Vreeland.
É tão certo que Vreeland chegará que eu não me permito ser Diana. Um erro? Acho que não. É só uma certeza.
Então eu não precisei nascer em Paris, mas talvez eu ame mais meu país do que ela amou a França nos anos 20, talvez eu tenha viajado e conhecido mais o meu país do que ela conheceu o dela, talvez eu tenha tanta certeza do sobrenome, de amar meu país e poder ser Diana Vreeland ou qualquer outra mulher sensacional que tenha me inspirado desde o dia em que nasci, que chega a noite e eu não consigo dormir, porque sei que é preciso uma vida inteira e muitas dúvidas para chegar a ser quem você realmente deve ser.