segunda-feira, 28 de setembro de 2015

quando em teresina

já posso começar a pensar em frases como 'quando morei em teresina eu..', porque já me vejo distante daqui, em outra realidade. é cansativo, eu sei. por vezes muito penoso. imaginar-se em outro lugar, em outra fase, uma outra vida, mesmo porque nunca quis grandes coisas da vida. sempre fui me deixando levar, rindo dos problemas depois que passam, rindo do lapso de tempo que é uma vida. 
finalmente criei expectativas. duas ou três no máximo. minha cabeça não aguentaria mais que elas, porque já vivo em um mundo paralelo, um mundo em que nada é o que aparenta ser. um mundo em que você é o que não vai ser nem o que foi. 
devo parecer uma contadora de histórias meio alucinada, um pouco depressiva. não sou nada disso. sou outra coisa, menos isso. você ainda não me vê. 

domingo, 27 de setembro de 2015

aconteceu com um amigo de um amigo meu

em um desses momentos de álcool no sangue e paz no coração dei carona à um amigo. eu estava tranquila porque estava com um amigo, porque ele não me interessava nem um pouco e porque, como sempre, ele era o namorado da minha amiga, mas aí ele se confundiu. acho que estava bêbado demais.. pra ele era amor. eu insisti, fui firme no meu não. ele arrefeceu, se inclinou pra trás e achou que eu estava sem graça. insistiu. eu disse que ele era alguém importante na vida da minha amiga e não deveria tratá-la assim. imediatamente ele jurou terminar tudo com ela e que o faria o mais rápido possível e então eu me sentiria mais tranquila. eu? ele não tinha entendido.. então eu disse que ele se precipitou, que eu era mesmo amiga e era legal assim, porque eu sou uma amiga legal assim, mas não estava interessada nele. já estava tarde. pedi que saísse do carro. eu estava cansada. feliz, mas cansada. parei em frente a casa dele, ele agradeceu a carona e desde esse dia ele acha que deveriam existir no mundo mais pessoas como eu. 
vez ou outra me liga para contar como está a vida, diz que ainda pensa em mim, em como não acredita existir tamanha lealdade ou sinceridade ou isso que ele achou que viu em uma quinta-feira tarde da noite. tem um filho e contas para pagar. também mudou-se de maringá. 

sábado, 26 de setembro de 2015

a soul to dig the hole much deeper

do ponto de vista da pessoa, não sou muito feliz. do ponto de vista da eternidade, sou extremamente feliz. 
minha natureza humana é um pouco triste, um pouco negativa, um pouco melancólica. já a natureza do desconhecido, minha verdadeira natureza, é leve, incansavelmente feliz, apaixonada pela vida que ainda não é. 
em viagens astrais me sinto outra pessoa. quando me deparo no corpo sou infinitamente pequena e me sinto presa. 
equilibrar essas duas vidas, as duas "pessoas", viver em harmonia com o que sou e com o que preciso ser. 
a pequena pessoa é autoritária, por vezes ainda sente raiva. a raiva é um sentimento complexo para pormenorizar. eu sinto raiva. não da vida ou das pessoas, mas eu a sinto e em alguns momentos com muita intensidade. 
em seguida me deparo com uma pessoa  tranquila, sem desejos, sem necessidades.. me sinto livre. 
vivo duas realidades: sou o que não sinto, sinto o que ainda não sou. 
acabo me tornando um ser complexo e misterioso mesmo não querendo. tento ser transparente e verdadeira ao passo que não posso. às vezes sinto que vivo minha vida sem mim. sou dona de trechos, parágrafos, interseções. sou todas as vírgulas sem ponto final, mesmo sabendo que nunca fui livro, nunca fui lida. 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

reféns no brasil real

entendo a preocupação de muitos com as inúmeras imigrações que vem acontecendo por todo o mundo. entendo também que cada um esteja fazendo o que acha correto, tentando encontrar a melhor solução, digo, uma solução, aliás, existe solução correta?
digo que entendo a preocupação dos outros, porque no fundo não me preocupo o suficiente para querer saber detalhes. o que sei e entendo bem é que vivemos como reféns, nós somos os refugiados em um país que cresce somente em sonho. prósperos sonhos da nação que jorrará mel e leite, celeiro e coração do mundo, a pátria do evangelho. nós somos reféns do futuro. 
fazemos nossa segurança na cintura, nos equipamos com câmeras de vigilância com tecnologia de ponta, pois se dermos sorte, teremos um close em full hd do possível suspeito. que sorte a nossa! enfiar mais um por de trás das grades e pagar por refeições e banhos de sol, enquanto aqui fora o preço do pão sobe. mas tudo bem, a justiça foi feita e ao invés dele levar o que está guardado dentro das casas, o que foi pago e devidamente pago, roupas, relógios caros, perfumes importados, eletrônicos, ele vai só ser sustentado com o nosso dinheiro. quem não vê justiça aí?
nós temos medo e bebemos todas as noites, tentando nos enganar de que a solução está logo ali, que isso tudo vai passar rápido, que não estamos tão mal assim. 
felizes aqueles que podem, ainda que por azar e com muito, mas muito sofrimento, largar tudo para trás e correr riscos, mas ainda assim partir em busca de tempos melhores, porque nós ainda estamos aqui, fingindo enxergar o que não vemos, tentando entender o que é incompreensível, nos animando e querendo acreditar que ainda é possível. no fundo somos nós os que precisam de asilo político, estrangeiros em nosso próprio país, recorremos a férias no exterior sempre que possível, para fugir da loucura que é ver o possível e conviver com o impossível, o abismo, o absurdo que foi feito nesse lugar. ainda assim, a grande maioria dos que se utilizam dessa técnica, o turismo, nunca esteve no interior miserável que essa nação tem entranhada em seus milhares e milhares de quilômetros e se choca, se revolta quando digo que não entendo e não sirvo para discutir sobre política, a filosofia da política, a ciência política, pois sempre fui do tipo que põe a mão na massa, aprendendo para ensinar o outro, o pobre, que é sempre símbolo de joguete, massa de manobra na mão de grandes jogadores.  
eles encontraram amor em minha agressividade, em minhas leituras, nas pequenas introduções à língua inglesa, no lanche da tarde, ao lampejo de possibilidades, qualquer possibilidade de algo diferente da realidade abusiva que os abraça diatiamente e eu sou grata por cada lição de humildade aprendida com cada um deles, os nossos refugiados. 
continuo não sendo eloquente na política. confesso que me abstive nas últimas eleições e no fundo tento até não sentir, mas me pego um tanto orgulhosa, na falta de definiçào melhor, de não ter colaborado ativamente para o resultado matemático nas urnas, pois não gostaria de ter votado em ninguém. estava ocupada indo aonde ninguém quer ir, nem ficar, muito menos voltar, o brasil real.

o homem sério

você é sábio o bastante para terminar um noivado por mim, egoísta o suficiente para admitir que o fez. 
se ao menos você tivesse me dito na época, se ao menos você tivesse baixado a guarda, se tivesse me deixado entrar e visitar suas ideias, te entender. você disse que o meu tipo era o seu tipo, e que o tipo que te faria feliz tinha se mudado de maringá. 
você não me disse algo sobre ser bonita ou inteligente, você analisou o meu caráter, me observou. você viu que nem todos agem como eu agi em relação às amigas e todas as outras coisas que você viu em mim. aquele dia eu fiquei nervosa, tive medo de um homem sério que saía de um relacionamento mais sério ainda. você sorri? 
eu preciso saber de onde você tirou essa seriedade toda. vem comigo, vem sorrir. eu não sou mais nada além de feliz. eu só existo e a minha presença basta. quero cuidar de você, me comprometer, quero te fazer feliz. você deixa? 
ou você vai me deixar passar de novo, sem dizer o que você precisa, sempre olhando para o lado, evitando comprometer o ambiente de trabalho. eu gostei disso em você! eu também sou assim! você também viu isso em mim?
eu vou voltar, vou mudar pra maringá, mas eu gostaria de saber se ainda sou o tipo que te faria feliz. eu me encantei por você e eu sinto que ainda posso te fazer sorrir. 

sobre meninas e traições

pauta recorrente em inúmeros encontros "só de meninas", a traição nunca me preocupou. independente se o compromisso era um almoço em alguma padaria legal que servisse um prato executivo decente, noite de drinks em algum boteco da moda, shots de tequila em alguma "muradinha" que desse pra sentar, levantar, gesticular e terminar com a garrafa vazia e os corações mais cheios e talvez orgulhosos por ter com quem dividir tantas bobagens, por ter amigas como aquelas. enfim, não importasse o lugar que algumas de nós estívessemos reunidas procurando por diversão, esse tópico sempre surgia e logo em seguida vinha a pergunta: o que fazer?
era sempre muito complexo e divertido. as respostas eram variadas. nunca foi pesado discutir sobre isso. eu nunca tive dúvidas. nesses casos eu era mais ouvinte, dava risada de algumas situações. eu nunca havia traído, mas não julgava quem o fizesse. 
algumas ali aceitavam ser a outra. atendiam ligações na madrugada e partiam felizes encontrar alguém que do outro lado da linha dizia "já deixei ela em casa". eu não me importava. não tinha medo dessa situação. isso não era real pra mim, não faria esse papel e então era só mais um tema. 
outras insistiam que quando a gente gosta, perdoa. faz sacrifícios pra ficar junto, releva, insiste. isso também não era pra mim. não me enxergava na situação de redentora, livrando alguém do pecado cometido contra a égide dos bons costumes monogâmicos. eu sabia que não perdoaria, pois eu não via um erro, uma falta. eu simplesmente via que alguém fez o que desagradou profundamente a outrem e que não fazia sentido continuar. eu não insisto nas pessoas. eu não insistiria em alguém que preferiu estar em outro lugar, com outro tipo de pessoa. se não há pecado, não existe perdão. 
estranho é lembrar que nenhuma de nós batia firme na tecla de que seria impossível  continuar. ninguém esquece um chifre, mas nenhuma de nós admitia com convicção largar quem quer que fosse em nome do amor e respeito próprio. meninas, mulheres tão diferentes e ainda com a mesma opinião latente. 

estive em algumas situações complicadas que não caracterizam, mas também não descaracterizam o fato. eu estive a ponto de ser a outra algumas vezes, mas nunca obtive sucesso. eu estava sempre sendo trocada.
infelizmente me torno passiva na mão deles e essa passividade me agride, me perturba a ponto de não conseguir sustentar relacionamentos por um longo período. eu preciso da minha agressividade pra me sentir viva e essa é uma das coisas que todo relacionamento me tira, então me frustra e me enche de tédio. eu me torno passiva porque meu coração descansa, porque eu acredito que tenho ao meu lado alguém com quem eu possa contar. eu só namoro pessoas que eu possa admirar e esse é o meu ponto fraco. admiro demais o sexo oposto. sem promiscuidade, sem piadas vexatórias, sem segundas intenções. é uma mistura inteligente de respeito, estima, apreciação e admiração sem dosagem exata. é uma enorme quantidade de sentimentos bons relacionados ao outro, ao masculino, ao que é completamente oposto e significativamente parecido a mim. é então que acabo esquecendo que admiro na mesma proporção ou ainda mais o sexo feminino. 

terça-feira, 22 de setembro de 2015

não guardo amores

na época parece que não importava o quanto eu me esforçasse, ele sempre estaria um passo a frente. Parecia que todas as estrelas que eu buscava, ele as tinha na palma da mão. Parecia que todas as minhas angústias internas, meus segredos mal resolvidos, eram um empecilho entre nós. Parecia que eu não era suficiente, talvez nem o equivalente. eu me sentia assim há muito tempo, não era ele. 
Foi então que cantei alto, ri no espelho, tomei medidas, reescrevi, reinventei e pedi ajuda. 
depois disso esperava-se o melhor: um milagre! que gritassem aos quatro cantos 'ei, vejam vocês. ela mudou!', mas não, essas coisas não funcionam assim. o tempo passou, todo aquele tempo se foi e do mesmo modo que costumo, depois de certo tempo, confesso, não guardar mágoas, também não guardo amores.  não costumo manter próximos aqueles que não souberam como agir comigo. falha minha ou deles,  agora tanto faz.  

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

sensibilidade

você vê o que vem? você tem vida? você é vida. vocês se nutrem de fantasmas ainda mais irreais que sua vida.
você vê o tempo passando, eu já não vejo tempo. sou tempo há muito tempo. meu tempo não passa e eu sou a mesma há muitos anos. você não me vê envelhecer. eu não envelheço igual a você. durmo de pijamas, faço meu café, não envelheço. 
você viu o cometa? sabe onde ele está? outro dia, outra noite, eu, um colchão na caçamba, o infinito, vi o que chamariam de estrela cadente passar. você sabe por que a chamam assim? um equívoco. não é estrela, deixa eu te contar. faça um pedido. já se realizou. outro café ou um chá? inspirei, expirei, sorri. você não vê um sorriso à luz das estrelas, você sente. você me viu passar? eu sorri. você sente? você sente?
 - nossa, como você está feliz! 
 - eu não disse nada. 
 - eu senti. 

domingo, 20 de setembro de 2015

agitação

tínhamos seguranças por todos os lados. eles se revezavam em turnos de oito horas. fardas, cuturnos, boinas, posição de sentido. aplausos em sonho. não mais que sonhos. 
eram homens normais, homens comuns. passam a noite sem dormir. todos dormem. você dormiu? 
não tive medo. 
você tem medo?
tente não ranger os dentes, tente não extrapolar os préstimos, um pouco menos de gratidão, disciplina. coração aberto. lá se cai mais um mês e eu preocupada em me espreguiçar. 
 - você usa ouro?
 - não, tenho alergia. 
 - a ouro?
 - não, perguntas. 

três dias

como se fossem três dias, três dias apenas. como se tudo que precisássemos fossem três dias de verão, três dias quaisquer. 
tenho ainda três dias para me despedir, me despir da carne, do osso, das células. nós nos despedimos. 
ainda se fossem três dias estaríamos salvos, mas há anos fiz minha parte, estudei. eu me preparei. não hoje nem agora, talvez você ainda leve muito tempo, muito tempo mesmo tentando entender o que nos prende, prendia. talvez seja o primeiro, em se tratando da máxima de que os últimos bem serão os primeiros. talvez você desperte, talvez sofra, talvez não sinta dor. 
já me conheço muito bem, tenho bem mais de vinte oito, tenho bem mais que trezentos e sessenta e cinco dias por ano. agora tenho a eternidade. desde antes escolhi ser outra, mas você me viu como a outra, mais uma. desde antes escolhi pertencer. eu apenas estou. 
não posso mais uma vez deixar almas vagando por mil anos sozinhas, chamando meu nome. eu nem sei mais quem ele era. eu me esqueci, pois já se passaram mil anos e não só três dias. esse era meu último apego. aquele talvez fosse meu último apego e a partir de agora eu estou livre. 
meu erro sempre foi esse, me prender ao efêmero, ao que nasceu para ser finito. aprisiono almas que levam anos para se livrarem do peso de me conhecerem. não entendo as regras do jogo e também não entendo qual o jogo que se joga aqui.
ele me viu chorar há mil, dois mil anos. eu ainda chorei. eu não choro mais, mudei. quem é ele? quem são eles? 

eu amo demais, sinto demais. eu sinto muito. 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

à minha família

vocês me acolheram,
vocês me acolheram, 
vocês me acolheram
e tomaram para si todas as minhas batalhas. 
limparam minhas feridas, 
quando eu mesma ainda me machucava,
me procuraram na noite mais sombria. 
vocês me acolheram. 

vocês me alimentaram,
quando nada mais fazia sentido
e tudo que eu sentia era um vazio
e fome. 

vocês me protegeram,
quando ainda mal podia entender o quanto eu precisava de proteção. 

vocês decidiram esperar,
vocês me deram paz,
me fizeram acreditar na possibilidade do amanhã, na vontade de existir, de viver. 
vocês me deram paz. 

vocês me deram amor,
quando eu ainda não entendia o que era amar. 
vocês me deram amor quando eu ainda não amava. 
vocês me amaram. 

vocês não me entenderam
e ainda assim amaram. 
vocês não me compreenderam
e ainda assim amaram. 
vocês não me viam
e ainda assim me amaram. 
vocês me aceitaram no momento em que escolhi ser quem eu sou. 
vocês me amaram.
vocês me amam. 
ayam!
ayam!
ayam! 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

coração leviano

conversaram por quase uma hora. pode não parecer muito, mas para pessoas que não se falam há tanto tempo seria quase que impossível manter uma conversa fluindo, mas não foi. 
ele se desculpou com ela. disse que não deveria ter dito as coisas que disse, que foi um tolo, se precipitou e nunca teve coragem de admitir que se arrependeu. apesar de um pouco pertubardor, diria-se, foi muito interessante atualizar tais assuntos. discutiram sobre bandas que alguns chamariam clássicas, outros antigas, mas eram bandas em comum. até certo ponto eles tinham um gosto bem parecido quando se tratava de música. 
ele sabia tocar algum instrumento, ela nada. só sabia ouvir e se sentir feliz. não sabia falar sobre riffs e solos e todas as outras coisas. mal sabia diferenciar o som do baixo e da guitarra, mas ele sabia e isso a impressionava muito. acho que ela se impressionava facilmente, mas sempre calada, aquela mulher só sabia ouvir. 
parece que ele tentou se desculpar novamente. insistiu nas desculpas, mas dessa vez pelo amigo. sentiu muito pelo comportamento leviano do amigo em épocas passadas. ela disse que entendia.
tentou ligar e continuou a escrever que ela não merecia ser tratada daquela maneira. tudo bem, ela quis dar a entender que já não se importava mais com os assuntos do passado. ele insistiu. desculpe as falhas do meu amigo. eu posso imaginar como você se sentiu. ninguém merece ser tratado dessa forma, muito menos você. ela se preocupou um pouco com o termo.  muito menos eu por quê?, ficou curiosa. porque você é diferente, você sabe que é, ele disse. ela sabia que era, mas não respondeu. 
você não parece mais estar incomodada em admitir que foi trocada, que foi mal tratada.. não mesmo, ela disse. por que eu ainda sou a mesma. não carrego a mágoa de ter arruinado um coração. eu não menti nem enganei. fui sincera até demais, muito ingênua - deixou escapar depois de uma longa pausa - mas não corrompi meu coração. já ele, pobre homem, voltou a ser um moleque aos meus olhos. 
se despediram pois já era tarde. ele tinha aula. sobre ela eu não sei. 

domingo, 13 de setembro de 2015

o patuá de heliodora

como eu comentei que às vezes ainda me sentia muito sozinha, muito pequena, ela me fez um patuá. 
pra explicar realmente como funciona isso, você teria que lembrar de um texto antigo, uma publicação de muito tempo atrás, quando eu identifiquei no outro minhas próprias faltas, quando me encantei com um texto em que o patuá era o personagem principal.  
pois bem, assim que tomei posse desse meu novo artefato, como não sabia muito bem como funcionava, lembro-me de que cada vez que sentia uma angústia, aquela melancoliazinha típica do personagem que eu vinha criando, levava a mão direita até ele e pensava tão forte que até chegava a achar que poderiam me ouvir, e mentalmente repetia: me faça feliz. 
ainda não sei como patuás funcionam. existe tanta superstição em torno deles, orixás, ervas, figas. ainda não sei como eles realmente funcionam, mas agora tudo que vejo é luz, tudo que penso é leve, tudo que sinto é apaziguador, tudo que desejo é benéfico, tudo que digo é entendido, tudo que vejo é lindo, tudo que quero, tenho. 
acho que nem ela acreditaria que fosse possível reverter essa minha situação. eu voltei a ser feliz, voltei a ser a tagarela e encantadora menininha que sempre deixava todos à sua volta contentes e iluminados com o sol dourado, com o patuá de heliodora. 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

quando vem me ver?

eu sei o que eles querem, o que eles todos pedem. eu sei o que gostariam de ouvir, eu sei o que eu deveria responder. eu sei o que cada um deles faz e como faz.
eu sei o que eles perguntam quando me perguntam, meu bem, quando você vem? eu sei o que eu ñ quero responder. 
eles todos questionam como vai ser, quando vamos nos entender, como vamos fazer. eu não quero saber. 
eles todos tentam, frequentam, inventam, mas eu não quero saber. 
eu só quero saber de você. desde que te vi eu só quero saber, quando você vem me ver?

terça-feira, 8 de setembro de 2015

necessito viver

Minha pele tá diferente, mas eu não me sinto tão diferente assim. Meu corpo mudou um pouco, mas continua o mesmo pra mim. Me sinto sozinha, me sinto feliz, me sinto completa e me  sinto tão, tão completa. Me sinto tranquila, me sinto pequena, enorme, me sinto feliz. Me sinto apática abraçando o mundo com braços tão pequenos, me sinto infinita  ao mesmo tempo que  acabo todos os dias. Me sinto grande, imensa, enorme. Me sinto um bebê. Me sinto forte, querida, atenciosa. Me sinto um bebê. Me sinto tão, tão livre.  Me sinto presa. Me sinto apática, anêmica e tão cheia de vida. Me sinto morrer. Me sinto florescendo a cada dia, me sinto morrer. Me sinto eu, meu, minha, me sinto engraçada. Me sinto engraçada. Me sinto engraçada. Me sinto florida, querida.
Me sinto viva, necessito viver.