domingo, 6 de março de 2016

O feminino que não exerço

Poderia escrever sobre assuntos mais relevantes, mas definir o feminino é falar sobre algo que sempre me instigou. Como é ser mulher? Criamos modelos, definimos metas e sempre temos em mente o que gostaríamos de ser, mas ser mulher não é nem nunca foi tão simples. 
Levantar esse questionamento não é uma reclamação, longe disso, pois os que me conhecem sabem o apreço que tenho pelo universo feminino. Ainda assim, algumas vezes me questiono sobre o exercício da feminilidade, em que ponto ele se perde ou torna-se inexistente. Como é de fato ser mulher? 

Meus modelos sempre foram de mulheres fortes e determinadas que, mesmo não sabendo aonde iriam chegar, simplesmente seguiam em frente. Iam sendo mulheres ao acaso, no dia a dia descobriam-se mulheres, femininas, guerreiras. Eis que, o que por vezes  me atormenta, é a linha tênue entre a feminilidade e o não exercício do feminino. Explico. Muitas das mães com as quais convivi e ainda convivo são, antes de tudo, mulheres, e ao que me parece, o que pode soar como uma generalização desnecessária e apressada, porém fiél às personagens, elas se dividem entre as extremamente vaidosas e que flertam com a futilidade na maioria das vezes, e as que parecem esquecer que são mulheres antes de serem qualquer outra coisa. 
Quando digo que se esquecem disso, é que muitas vezes elas acabam por eleger o trabalho, os filhos ou o marido, por exemplo, como "prioridade" e acabam deixando de lado a mulher e o feminino que precisam e devem ser exercidos hodiernamente. Talvez por opção ou por imposição, fato é que elas simplesmente não têm tempo ou disposição para a demanda de feminices em cada centímetro de pele que o gênero tende, muitas vezes, a exigir. 

Quanto às outras, as que preferem serem possuídas do que possuir o dom da feminilidade, essas eu não tenho muito sobre o que dizer, além de que cada palmo bem estruturado, apertado e esticado de seus corpos, parecem sempre melhores que de todas as mortais. 

Mas aí, é permeando esse tipo de pensamento que sei e admito até com certo gosto, que não exerço o feminino à rigor, como manda o figurino. Gosto, muitas vezes, de me sentir gente, apenas ser, respirar e depois, como que naturalmente, ser mulher aparece, ressurge em meio à mãos e pés encardidos, cabelos presos em um coque, unhas por fazer e um rosto cansado. 
Ser mulher exige tempo e sinceridade. Ser mulher demanda uma sutileza quase que imperceptível, todavia, barulhenta e totalmente visível. O feminino precisa ser exercido antes que morra e não torne a viver, mas ele requer cautela, requer privações e muitas vezes, requer a presença de um de seus maiores incentivadores, o masculino.